segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Adolescentes que agridem os Pais - uma realidade preocupante

A violência contra os pais é muitas vezes discutida em várias áreas que trabalham com a família, muitas das quais descrevem este fenómeno em geral e em crescimento. Cada vez mais se tem um conhecimento informal desta realidade. Poucas estatísticas se encontram disponíveis sobre esta problemática. Mas a realidade indica que este tipo de violência representa um importante problema social.

Existe muito pouca informação relativamente à violência contra os pais, não existe muita clareza acerca deste fenómeno e em relação ao vasto espectro sobre violência conjugal/violência família e inadequada informação/investigação para resolver estas lacunas. A falta de informação sobre a violência contra os pais reflecte as atitudes sociais de culpar os pais e os cuidadores do comportamento violento dos seus filhos adolescentes.

Existe um sentimento de vergonha profundo que vai passar por este comportamento dos pais que pensam que não estão a desempenhar o melhor papel e estão preocupados com o facto das outras pessoas descobrirem. A actual investigação nesta área ainda inexplorada é unânime em apontar para a sobreposição de diferentes formas de violência, sintomas de vitimação, factores causais, distorções cognitivas e modelos de intervenção. A revisão de literatura completa características comuns para sublinhar as ligações entre abuso infantil, testemunho da violência conjugal e agressividade na adolescência.

Definições para violência contra os pais são escassas e difíceis de alcançar. A adolescência pode ser um tempo difícil tanto para os adolescentes como para os pais, bem como a linha entre a normalidade e os comportamentos de mudança/abusivos. À luz das semelhanças em questão do poder e tácticas utilizadas no abuso conjugal e parental, a maioria das definições da violência contra os pais são derivados da terminologia da violência doméstica.

A literatura canadiana é a que se apresenta mais completa na sua investigação sobre violência contra os pais, oferecendo mais conceptualização. A Unidade de Prevenção em Violência da Família (UNITA), tem alguns estudos com adolescentes violentos, os seus pais e prestadores de serviços desenvolveram o que parece ser a definição mais abrangente da violência contra os pais até à data repartindo um peso igualitário por todas as formas de abuso. A definição para violência contra os pais é qualquer acto em que a crianças/filho (a) provoca danos físicos, psicológicos ou financeiros para obter poder e controlo em um dos pais ou em ambos. Geralmente inicia-se com abuso verbal.

Prevalência
Os dados nos Estados Unidos da América mostram estimativas da incidência da violência contra os pais nas famílias de 7% a 18%, sendo a violência contra os dois progenitores. Em relação a famílias monoparentais ronda os 29%. As investigações canadianas estimam que um em cada dez pais são maltratados pelos seus filhos, da mesma forma que se estima que este tipo de violência ronda cerca de 4% no Japão e é relativamente baixo em França com cerca de 0,6%.

Quem perpreta a violência contra quem?
Os poucos estudos disponíveis mostram que os autores deste tipo de violência tanto são homens como mulheres. Este aspecto é consistente com as recentes conclusões sobre o aumento de criminalidade e na delinquência por parte das mulheres. A grande diferença apesar de não estar focada na representação do género, aparecem no tipo de violência utilizada. Os homens são mais propensos a utilizarem violência física e as mulheres violência emocional.

Estudos sobre a violência contra os pais na tentativa de encontrarem preditores demonstram que os homens são mais propensos a cometer violência contra amigos e desconhecidos, incluindo os pais. Enquanto as mulheres relatam mais situações em que forem testemunhas de violência interparental, dai serem susceptíveis de serem menos violentas com os seus pais. Comportamentos desviantes, dificuldades na escola e consumos aditivos como álcool e drogas também foram identificados como preditores para a violência na adolescência. A continuação da violência nas diferentes fases do desenvolvimento as causas foram atribuídas à influência social que apoiam comportamentos violentos.

Estudos canadianos indicam que o abuso começa entre os 12 e os 14 anos, embora estudos anteriores nos Estados Unidos da América estimam que o pico da idade para a violência nos adolescentes é entre os 15 e os 17 anos de idade.

Vítimas
Em geral, mães e cuidadoras do sexo feminino são mais frequentemente vítimas deste tipo de violência as mulheres tem mais propensão a serem mais violentas com as suas mães do que com os seus pais.

Tipos de família
Informações erróneas sugerem que só existe violência contra os pais no interior de famílias monoparentais. Esta crença é difícil de desmistificar devido à falta de pesquisa primária e das escassas estatísticas oficiais sobre a prevalência deste tipo de violência.

No estudo canadiano, Cottrell investigou numa amostra de 45 famílias este tipo de violência, sendo a maioria famílias monoparentais. Enquanto em 1999, num estudo francês com 22 adolescentes violentos a amostra continha 64% dos adolescentes que faziam parte duma família com dois progenitores e 36% que faziam parte de famílias monoparentais. Um estudo recente na Austrália com 17 mães, vítimas deste tipo de violência mostra números muito semelhantes entre famílias com ambos os pais e monoparentais.

Rotular o tipo de família associada a este fenómeno, com a limitação dos estudos existentes e com a amostra reduzida a um tipo de família é impossível. Só um estudo com uma amostra mais abrangente poderia clarificar se existe algum tipo de família associada à violência contra os pais.

Métodos de intervenção
Trabalho individual com as vítimas e perpetradores da violência contra os pais é mais comum do que o modelo de trabalho de grupo.
O conceito da família e a terapia narrativa parecem ser mais amplamente utilizados por estess serviços na abordagem à violência contra os pais. O contexto familiar é fundamental na avaliação da extensão da violência do adolescente com os pais, como muitas vezes identifica outras formas de violência familiar em casa, assim como no exterior, e que contribui para desaprender padrões de violência que podem estar presentes em casa.

Prevenção Primária
Ao trabalhar a este nível é crucial e importante promover uma maior compreensão sobre a violência contra os pais. Isto permite que as famílias não desenvolvam a culpa e compreendam a violência como um leque mais complexo do que circunstâncias. Também promove o sentimento de ajuda e acompanhamento nos pais, para que não sintam que são os únicos a terem problemas com os adolescentes. Para a compreensão da sociedade para a violência contra os pais, os seus efeitos e causas é importante promover a prevenção primária. Grande parte da literatura encoraja fortemente o desenvolvimento humano e ecologia humana como abordagem à prevenção de violência, que explora “fortes de apoio social e familiar, experiências subjectivas da juventude e do papel do género na socialização. Esta abordagem reforça a interacção social e resolução de problemas, competências e ensina os jovens a lidar com conflitos sem recorrer à violência.

Onde pedir ajuda:
APAV – Associação de Apoio à Vítima
GNR – Guarda Nacional Republicana
PSP – Polícia de Segurança Pública
CPCJ – Comissão de Protecção de Crianças e Jovens
MP – Ministério Público

Nota: Não vai ser cedido bibliografia de momento, porque continuamos a trabalhar nesta temática.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Perturbação de Oposição vs Perturbação de Conduta

Existe muita confusão em diferenciar Perturbação de Oposição e Perturbação de Conduta em crianças. Vamos de uma forma simples tentar delinear diferenças para a caracterização de cada uma.

Perturbação da oposição é caracterizada por comportamentos apresentados pelas crianças no sentido contrário ao comportamento que lhe foi pedido ou é esperado. Definido pelo DSM como perturbação disruptiva caracterizada por um padrão global de desobediência, desafio e comportamento hostil durante pelo menos 6 meses, durante pelo menos 4 das seguintes características tem que estar presentes: perder a paciência frequentemente; discutir com os adultos; desafia ou recusa activamente obedecer a ordens por parte de adultos; perturba as outras pessoas de forma deliberada; responsabiliza os outros pelos seus erros ou pelo seu mau comportamento; mostra-se frequentemente aborrecido com os outros; mostra sentimentos de raiva e de fúria e frequentemente é rancoroso e vingativo. Esta perturbação deve causar prejuízo significativo no funcionamento social, escolar ou ocupacional. Estes sintomas não podem ocorrer exclusivamente durante um período de Perturbação Psicótica ou do Humor.
A prevalência desta perturbação ronda os 2 a 16%. É muitas vezes responsável pelo comportamento desviante nas crianças. Como o caso de roubos, agressões e crueldade com animais e pessoas. Pode aparecer em crianças com perturbação de hiperactividade com défice de atenção.
Esta perturbação deve ser avaliada através de entrevista com a criança e com a família. A criança deve ser acompanhada clinicamente e com recurso a fármacos.

A Perturbação de Conduta é caracterizada por um padrão repetitivo e persistente de comportamentos no qual são violados os direitos básicos dos outros e/ou normas ou regras sociais importantes inerentes à idade. A taxa de prevalência varia entre os 2 a 9%.
As características desta perturbação são: conduta agressiva ou ameaça de danos físicos a outras pessoas ou animais; conduta não agressiva que causa perdas ou danos a propriedades; defraudação ou furto; sérias violações de regras. Para que esta perturbação seja diagnosticado é necessário que três ou mais destes comportamentos esteja presente durante os últimos 12 meses, com presença de pelo menos um destes nos últimos 6 meses. Tal como na perturbação anterior também esta tem que causar prejuízo clinicamente significativo no funcionamento social, escolar ou ocupacional.
As crianças com estas perturbações tende a minimizar os seus problemas. E também nesta perturbação a crianças deverá ser avaliada através de entrevista e recolha de informação adicional. Frequentemente iniciam um comportamento agressivo e reagem agressivamente com os outros. Exibem um comportamento de provocação, ameaça ou intimidação; iniciar lutas com recurso a armas; roubar.

Ambas as perturbações se encontram numa variedade de contextos, tais como em casa, escola ou comunidade.

O que distingue estas perturbações é que a Perturbação de Oposição não inclui um padrão persistente das formas mais sérias de comportamento, nas quais são violados os direitos básicos dos outros e/ou as normas ou regras sociais inerentes à idade. 



quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Quando as crianças se tornam pais à força – troca/inversão de papeis

Muitos são os maus tratos categorizados na nossa sociedade em relação às crianças e jovens, mas recentemente tem vindo uma nova “espécie de mau trato”.
A nossa sociedade tem vindo a mudar no último milénio e com esta mudança alterações importantes. Se pesquisarmos sobre direitos das crianças aparece-nos uma panóplia de direitos: direito à educação, direito à família, direito à alimentação, direito à segurança, direito a brincar.
Mas muitas crianças e jovens são anulados destes direitos em função de uma necessidade maior, tratar dos seus pais. Geralmente são raparigas em idade escolar que deixam a escola em segundo plano para tratar de um dos seus progenitores. Maioritariamente o progenitor do sexo feminino que apresenta problemas com substâncias, doença mental (e.g. depressão) e menos usual doença física.
Esta problemática preocupa não pela participação das nossas crianças e jovens nas tarefas domésticas, mas sim por terem a responsabilidade total dos adultos. A estas crianças é negado o direito de brincar, de terem cuidados por parte de adultos e são eles que tomam contam destes adultos.
Adultos que passam muito tempo acamados, em condições de isolamento, a necessitarem de cuidados físicos e psicológicos. Estas crianças tem que dosear medicamentos, tomar conta das tarefas domésticas, cuidarem da higiene pessoal dos próprios e do progenitor, e enfrentarem as crises a que os progenitores estão sujeitos. Estas crianças nem sempre vão à escola, faltam muito para cuidar dos seus pais. Será que tudo isto não é uma forma de mau trato?
Estas crianças apresentam um discurso e uma experiência com características de adultez, anulam-se no seu papel e começam a deixar de se comportar como tal. É roubada a infância ou a adolescência para zelarem por um adulto. As instituições deveria estar atentos a esta problemática que infelizmente cada vez é mais frequente e muito poucos dados existem.
Não se conhece uma prevalência, uma tipologia nem sequer uma denominação para estas crianças e jovens que perdem o seu direito de serem isto mesmo crianças e jovens, e trocarem de papeis com os seus pais. Estes pais que passam a ser filhos e os filhos que passam a ser pais à força. Deverá existir uma intervenção, um acompanhamento para a infância e adolescência destas crianças seja respeitada.
Espero que a partir desta reflexão comece a ver mais escritos sobre esta problemática e que efectivamente algo seja feito para modificar esta realidade. Por falta de material cientifico não será possível disponibilizar links para futuras consultas.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Perturbação da Hiperactividade com Défice de Atenção

A Perturbação da Hiperactividade com Défice de Atenção é uma das perturbações neuro-comportamentais mais faladas em idade escolar. O termo PHDA descreve um quadro de hiperactividade ou seja actividade excessiva numa criança e instabilidade psicomotora. 
O diagnóstico desta doença baseia-se essencialmente em critérios comportamentais, embora ainda este mês tenha sido facultado dados que indiciam que esta sintomatologia pode estar associada a problemas genéticos. Uma pesquisa na Cardiff University em Inglaterra, analisou 366 crianças e foi verificado uma deficiência genética em 15%.Sendo que esta pesquisa ainda é muito recente e pouco conclusiva, teremos em conta os aspectos comportamentais.
Os sintomas começam por dificuldades escolares, mau rendimento escolar, défice de ajuste social e emocional. São geralmente crianças desorganizadas, com pouca habilidade para tarefas motoras, auto-estima muito baixa e isolamento social.
Segundo o Manual de Doenças Mentais (DSM) deve iniciar-se antes dos 7 anos de idade, os sintomas persistirem durante 6 meses e persistirem pelo menos em dois contextos (e.g. casa; escola).
Existem diferentes subtipos da PHDA e diferenças de género a ser consideradas.

Como avaliar esta perturbação:

Deve ser avaliada a nível médico e a nível de avaliação psicológica. A avaliação médica deverá ter em conta todo o percurso do desenvolvimento físico, psicológico e emocional das crianças; a historia pessoal e familiar.  

A avaliação psicológica deverá ter em conta a presença/ausência dos sintomas de diagnóstico da doença, recolha de informação de contextos diferentes da avaliação; aplicação de instrumentos psicométricos adequados.

Alguns links sobre a PHDA


http://repositorium.sdum.uminho.pt/handle/1822/174


http://pepsic.bvsalud.org/pdf/avp/v4n1/v4n1a08.pdf


http://www.apmcg.pt/files/54/documentos/20080303144338375635.pdf


http://www.actassnip2010.com/conteudos/actas/PsiCli_13.pdf

Rabiscos de Psicologia

Nem sei bem por onde começar nesta aventura. Passaram 7 anos desde que ingressei no mundo da Psicologia, carreira que me motiva pelo conhecimento e pela mente Humana. Mas acima de tudo para além da empregabilidade, o serviço público que se deve fazer para contribuir para o melhoramento da Saúde Mental.
É sem dúvida neste âmbito que criei este blog, de forma a informar sobre doença mental, psicopatologia, psicodiagnóstico seja na valência clínica, educacional ou forense. 
Espero contribuir para uma desmistificação da saúde mental, desde a sua prevenção, avaliação e intervenção. E também com algumas sugestões científicas sobre algumas temáticas.

Carpe Diem,
Espero que este "projecto" seja o início de algo útil e de serviço público.

Antónia Ferreira Neutel